sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O QUE É UM MESTRE ESPIRITUAL​? - Mestre Omraam Mikhaël Aïvanhov


CAPÍTULO VI - O MESTRE, ESPELHO DA VERDADE (parte) 


Se um homem não se conhece, se não está consciente dos seus dons e das suas lacunas, das suas possibilidades e das suas insuficiências, não pode conseguir grande coisa da vida nem ter relações harmoniosas com as outras criaturas, e daí decorrem, para ele, complicações, choques, disputas. Pode-se mesmo dizer que as maiores infelicidades que acontecem aos humanos são devidas a essa falta de conhecimento de si mesmo. Saber o que se é, o que se representa, o que se é capaz de fazer ou não... Sim, saber situar-se - é precisamente a este respeito que as pessoas se enganam constantemente, e isso é muito grave. As empresas, os casamentos, as associações, tudo o que se faz pode ir por água abaixo se, na base, não se tiver colocado um conhecimento claro da sua própria natureza e também da natureza dos outros, evidentemente. A sabedoria começa pelo conhecimento de si mesmo. Mas, como conhecer-se? O homem dispõe dos órgãos necessários ao conhecimento, só que está construído de tal maneira que não pode ver-se a si mesmo. Ele vê o mundo exterior, vê os outros, mas não se vê a si próprio. Para se ver no mundo físico, ele precisa de algo físico que possa reflectir a sua imagem: a superfície da água, um espelho ... Precisa, pois, de se ver através de qualquer coisa exterior a ele. Acontece o mesmo no domínio psicológico: o homem tem necessidade dos outros para descobrir o que é. Mas os outros, que nem sempre são inteiramente lúcidos e desinteressados, não podem ser espelhos impecáveis e dão-lhe uma imagem deformada dele próprio. Por razões de que raramente estão conscientes, as pessoas têm simpatias e antipatias, e exageram, por isso, as qualidades e os defeitos dos outros. Se alguém é vosso inimigo, para ele vós sois antipáticos e, por consequência, ele irá amplificar os vossos defeitos ao ponto de não querer reconhecer em vós a mínima virtude. «Se é assim, direis vós, vamos aprender a conhecer-nos através de livros. - Muito bem, mas tudo depende dos livros que escolherdes e do nível a que eles vos ajudarão a conhecerdes-vos. - Então, será a vida que nos ensinará a conhecermo-nos. - Ah! Nisso sim, eu acredito, só que será preciso muito tempo e custar-vos-á muito caro. Acabareis por conhecer-vos um pouquinho melhor, mas os danos serão irreparáveis.» O meio que eu vos aconselho, o mais económico, o mais sensato, o mais eficaz, é o de pedirdes ao Céu que vos coloque diante de um espelho perfeito, quer dizer, diante de um ser com uma grande abnegação, um grande desapego, que não tenha qualquer vontade de vos enganar para se aproveitar de vós; e esse espelho só pode ser um verdadeiro Mestre. Encontrai um Iniciado e perguntai-Ihe: «O que é que eu represento? O que é que existe em mim? Quais são as fraquezas que eu devo combater e as riquezas e talentos que devo desenvolver? A que trabalho estou predestinado?» E ele, que é desinteressado, entrará em comunicação com o Céu e dar-vos-á respostas impecáveis. Agora, resta saber se, quando esse espelho começar a reflectir alguns dos vossos defeitos, vós não ireis ficar furiosos com ele. Pelo contrário, deveis agradecer ao Céu e dizer: «Oh! Que catástrofes eu vou evitar, que infelicidades vou afastar dos outros e de mim próprio!» Mas os humanos não querem ver-se tal qual são, preferem viver nas suas ilusões. Por isso, um Mestre sabe antecipadamente o que o espera quando abre a boca. Aquilo que lhe respondem nunca é: «Tem razão», mas: «Não, nunca, está enganado. Não é nada assim como está a dizer.» Sim, o Mestre é que se engana sempre, eles nunca! É um problema, para um Iniciado, saber como fazer os humanos aceitarem certas verdades. Por exemplo, uma irmã vem ver-me e pergunta-me: «Mestre, gostava que me dissesse quais são as minhas fraquezas, os defeitos que devo corrigir. Não vai ficar vexada? - Não, não, aceitarei tudo.» Eu começo a dizer algumas palavras e ela começa logo a chorar! Então, eu digo-lhe: «Se chora, eu tenho que parar, porque está tão obnubilada pelo seu desgosto que já não consegue ouvir nada do que eu estou a explicar-lhe.» Para se compreender, é preciso não deixar os sentimentos sobreporem-se. O que é que se pode compreender se se começa logo por ficar vexado e triste? E não penseis que isto só acontece com aqueles que eu recebo pessoalmente. Quando falo na sala, vejo alguns que ficam insatisfeitos com as minhas explicações e que, em vez de me escutarem, se fecham no seu descontentamento. Se é para não ouvirem, para não compreenderem nada, é inútil virem cá. Deveis vir cá unicamente com o objectivo de conhecer verdades que não conheceis e que vos ajudarão a transformar a vossa vida. Para isso, tendes de aceitar ser um pouco sacudidos. Se eu andar sempre a consolar-vos: «Ah!, coitado, como você é infeliz!», para que é que isso servirá? Quando uma criança cai e se fere, chora um pouco, é claro. E se, para a consolar, lhe dissermos: «Oh, meu querido, que horrível, magoaste-te!», ela chorará com mais força e durante mais tempo. Ao passo que, se lhe dissermos: «Vá, isso não é nada», ela levantar-se-á e pronto!, dois minutos depois já não pensará naquilo. Ou seja: não é bom estar sempre a consolar as pessoas, pois, muitas vezes, essa é a melhor maneira de aumentar a sua fraqueza e a sua preguiça. O papel de um Mestre não é unicamente o de manifestar muito amor e ternura. Para os discípulos progredirem e evoluírem, ele também deve mostrar-se severo e dizer-lhes certas verdades. Tanto pior para eles, se não lhes agradar! Se eu me fosse preocupar com as vossas reacções, com a vossa opinião a meu respeito, acabaria por nunca fazer nada. Alguns de vós confessaram-me que, no momento em que eu lhes mostrei as suas fraquezas, detestaram-me. Mas não faz mal, eles que me detestem, eu tenho uma carapaça. Porém, para lhes fazer bem, sou obrigado a abaná-los um pouco. Se eles continuarem a julgar-se impecáveis quando, na realidade, se comportam de uma maneira absolutamente vulgar ou mesmo repreensível, que progresso poderão fazer? É muito melhor conhecerem certas verdades, mesmo que elas os façam sofrer; esses sofrimentos não durarão e o conhecimento que eles terão de si próprios permitir-Ihes-á corrigirem-se e evoluírem. Até ao dia em que, por fim, se aperceberão de que eu fui para eles de uma tal utilidade que me procurarão até nos outros planetas para me agradecerem! Quando estais doentes, aceitais bem certos remédios desagradáveis para vos curardes. Muito bem, no domínio espiritual é preciso fazer o mesmo: estais doentes há muito tempo e necessitais de um tratamento para vos curardes. Se não quiserdes aceitá-lo, tanto pior para vós, não vos curareis. Aliás, se eu vos deixar fazer tudo sem dizer nada, será o Céu a ficar descontente. Ele dir-me-á: «És medroso, não queres dizer a verdade para não aborreceres este ou aquele. Assim, irá tudo por água abaixo por tua culpa!» Eu gostava muito de vos agradar, mas também tenho o meu dever, as minhas responsabilidades. Aliás, um Mestre que fecha os olhos não pode ser útil. Eu nunca seguiria um Mestre assim! De que me serviria ter um Instrutor que me deixasse fazer todas as asneiras sem me esclarecer, sem me corrigir? Estão a ver? Os discípulos não têm a mínima noção do que devem esperar do seu Mestre. Eu sei o que faço, e compreendo muito bem a situação. Eu sei que, se quiser a vossa amizade, devo enganar-vos e elogiar-vos: «Ah! Você é único. Viajei por todos os países e nunca encontrei ninguém tão sábio e tão inteligente!» Posso até procurar nos dicionários as palavras mais raras e mais poéticas para me dirigir a vós, e então ireis adorar-me. Eu não sou estúpido, sei aquilo que me é útil e aquilo que não é. Portanto, eu sei o que perco se for sincero convosco, mas vós ganhais, e por isso eu aceitei perder para que vós possais ganhar. Por que é que existe nas pessoas esta fraqueza de estarem sempre à espera de elogios? Para se enganarem a si próprias. Elas têm necessidade de se enganar, não podem viver sem isso. O que é que aconteceria à humanidade se ela não vivesse mergulhada no engano? Se disserdes a uma mulher velha e decrépita que ela é um "velho quadro" - o que é verdade -, ela nunca mais vos perdoará. Se, pelo contrário, lhe disserdes que ela ainda está jovem, linda, adorável, eis que o "velho quadro" vos sorri, dá gargalhadas e se bamboleia e, se for rica, dar-vos-á toda a sua fortuna. Sim, por uma mentira! Isto não quer dizer que eu vos aconselho a agir assim, não, mas é uma constatação. A maior parte das pessoas não vos dizem a verdade sobre vós mesmos, sobre os vossos defeitos e as vossas fraquezas, porque têm medo de perder o vossos favores ou de fazer de vós seus inimigos. Por detrás desta atitude amável, delicada, existe, pois, um interesse, e assim vós continuais a ter os mesmos defeitos que, com o tempo, só se ampliam. Mas um verdadeiro Iniciado comporta-se de maneira diferente. Como não tem qualquer interesse, não tem medo, nem tem nada a perder, já ganhou tudo, porque conhece a verdade. Ele não hesitará em vos mostrar as vossas fraquezas, tudo aquilo que vos prende nas regiões infernais e vos impede de ir para o país da luz, para o Paraíso... Ele ousará dizer-vos tudo aquilo que vos torna doentes e infelizes, porque quer dar-vos meios, métodos para remediar as vossas imperfeições e as vossas lacunas. Porém, o Mestre, para dizer a verdade ao discípulo, não o fará de qualquer maneira. Primeiro, o discípulo é como uma criança que tem necessidade de que a sua mãe o alimente, o proteja, o acaricie. Mas, ao fim de algum tempo, quando a criança já está mais crescida, tal como a mãe desmama o filho que esteve a amamentar, também o Mestre desmama o discípulo. Será isto indiferença, crueldade? Não, mas chegou o momento em que a criança pode alimentar-se sozinha. Reparai no que acontece com os animais: ao princípio, as mães são extremamente ternas para com as suas crias, mas ao fim de algum tempo afastam-nas e dão-lhes umas patadas: «Vá, vai-te embora, desenrasca-te, agora já não tens necessidade de mim!» 


Nota: Extrato do Livro O QUE É UM MESTRE ESPIRITUAL​? - Mestre Omraam Mikhaël Aïvanhov

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