domingo, 5 de outubro de 2014

MESTRE OMRAAM MIKHAEL AIVANHOV


"Do passado, basta-nos tirar lições. É inútil voltar a ele ou perder tempo com ele, há que pensar no futuro. Quem se agarra ao passado não avança, fica anquilosado. As pessoas idosas é que estão sempre a voltar ao passado, não conseguem ver como poderiam projetar-se no futuro. Contudo, também existe um futuro para elas, mas elas não pensam nisso e estão sempre a contar as mesmas histórias da sua juventude. Isso em parte é normal, claro, mas elas deveriam observar melhor as crianças, que falam constantemente daquilo que farão mais tarde. Por que é que não as imitam? Ser uma criança significa acabar com o passado, pois é sempre o futuro que conta. Todos nós devemos fazer como as crianças.
É verdade que, quando se diz de certas pessoas idosas que eles “voltaram à infância”, isso não é uma situação famosa. Mas é o que acontece a todos os que recusaram tornar-se verdadeiras crianças para quem existe sempre qualquer coisa a descobrir e com que se maravilhar. Quem não procura tornar-se conscientemente uma criança corre o risco de o voltar a ser um dia pela força das coisas, 
e isso será o gatismo."

"Alguém se vangloria, dizendo: «Ninguém tem o direito de me impor a sua vontade. Só eu mando em mim.» Coitado, ele que procure perceber primeiro se é realmente ele que governa a sua existência!... E por “ele” deve-se entender o seu verdadeiro eu, o seu Eu divino. Na realidade, muitos outros tomaram o seu lugar: forças caóticas, tenebrosas, paixões que ele deixou que andassem à solta dentro de si. Entretanto, ele, isto é, o seu verdadeiro eu, está prisioneiro algures num pequeno calabouço onde é alimentado com algumas côdeas de pão e um pouco de água. Então, de que liberdade, de que poder, fala ele?
Há imensas pessoas que se julgam livres e poderosas! E, admitindo que elas conseguem impor-se por algum tempo àqueles que as rodeiam ou mesmo a um país inteiro, a sua liberdade e o seu poder são apenas aparentes, pois neles reina a anarquia. E é esta anarquia interior, que está na origem de todas as desordens políticas ou sociais, que enche as prisões, as clínicas e os hospitais psiquiátricos. Até quando? Até que os humanos conscientes, vigilantes, consigam restabelecer neles mesmos a autoridade do Princípio divino."

"No momento em que um homem e uma mulher se encontram e se amam, tendem a esquecer o mundo inteiro, nada mais existe para eles. Eles ainda não se habituaram a viver o amor de uma maneira mais vasta e, sem o saber, empobrecem-no, mutilam-no. O verdadeiro amor abarca a totalidade das criaturas sem se limitar, sem criar raízes apenas junto de uma. Por isso, é preciso que, de futuro, os homens e as mulheres aceitem ter conceções mais amplas, que eles sejam menos possessivos e ciumentos, o que não os impedirá de continuarem a ser fiéis um ao outro.
Quando dois seres verdadeiramente evoluídos se escolhem, à partida eles concedem um ao outro esta liberdade: cada um regozija-se por poder amar todas as criaturas na maior pureza. A felicidade não está em fixar-se num ser, ou dois, ou dez, ou cem... mas em amar até ao infinito. Continuai, pois, a amar aqueles que já amais, mas alargai o círculo do vosso amor. E alargai-o até terdes também trocas com todas as entidades luminosas do mundo invisível, os anjos, os arcanjos... Então, a vossa família, os vossos amigos, ficarão enriquecidos, reforçados, purificados, por causa de tudo o que viveis de belo no vosso coração 
e na vossa alma."

"Querer fazer o bem é uma coisa e fazê-lo realmente é outra, pois, infelizmente, o desejo não é suficiente: é preciso ser bastante lúcido e honesto para admitir que, mesmo julgando que se está a agir bem, se pode estar a cometer erros. Mas isso não é razão para desanimar. Apenas é necessário estar tão ou mais vigilante, desconfiado, em relação a si mesmo do que em relação aos outros.
Pode também acontecer que, agindo bem, se atraia complicações e até hostilidade. É por isso que se houve as pessoas dizerem: «Fazei o bem e colhereis o mal.» Mesmo que seja verdade, isso nunca deve justificar o egoísmo e a recusa de ajudar os outros. Vós praticastes o bem e não só não fostes recompensados como até abusaram de vós? É doloroso, evidentemente; mas procurai esquecer isso depressa e pensai que o vosso comportamento não tem de depender da atitude dos outros. Fazei o bem sem esperar nada. Contai unicamente com Aquele que vê tudo, que sabe tudo. Só Ele pode apreciar as vossas ações boas e generosas, portanto será d’Ele que virá a recompensa. E ela talvez venha sob uma forma diferente daquela que esperais. Tereis melhor saúde, sereis mais fortes, mais sábios, mais serenos: 
não é a melhor das recompensas?"

"Vós talvez não tenhais tempo para orar e meditar, mas todos os dias sois obrigados a usar pelo menos uma hora para vos alimentardes. Então, por que não aproveitais esse tempo das refeições para vos distanciardes das vossas preocupações e da agitação que vos rodeia? É o momento de vos lembrardes de que também tendes uma alma e um espírito para alimentar, e enviar ao Senhor um pensamento de gratidão por aquilo que Ele vos dá através desses alimentos. O que são os alimentos? Uma carta de amor. Sim, uma carta de amor escrita pelo Criador, e muitas coisas dependem da maneira como se lê essa carta. 
Quem é negligente não retirará dela qualquer benefício.
Quando recebeis uma carta de uma pessoa que vos é muito cara, vós lede-la várias vezes com atenção para apreender e apreciar todas as suas nuances: parece-vos que cada palavra contém um mundo de significados a descobrir. Procurai considerar do mesmo modo a carta de amor do Criador. É a carta com mais poder, a mais eloquente, pois nela está escrito: «Eu trago-vos a vida!»"

"Quereis uma definição para trabalho espiritual? É muito simples. Ele consiste em mobilizar os vossos pensamentos, os vossos desejos e mesmo todas as tendências da vossa natureza inferior para a realização de um ideal superior. O sol pode ajudar-nos nesse trabalho de unificação, de harmonização. Quando o vedes erguer-se, de manhã, pensai que a vossa consciência se aproxima do vosso próprio sol, o vosso espírito, o vosso Eu superior, para se fundir com ele. Quando tiverdes conseguido apaziguar e unificar todas as forças contrárias que vos puxam cada uma para seu lado, projetando-as numa só direção, uma direção luminosa, divina, tornar-vos-eis um foco tão poderoso que sereis capazes de irradiar 
através do espaço, como o sol.
Aquele que consegue dominar a sua natureza inferior vê o horizonte aclarar-se diante de si todos os dias. Agora que ele já não está prisioneiro dos seus velhos demónios, é livre de alargar o campo da sua consciência a todo o género humano, e envia, tal como o sol, a luz e o amor que transbordam dele... Mas, antes de poder irradiar, ele tem de aprender a concentrar todas as forças do seu ser 
para as orientar numa só direção."

"Vós começais a ter dificuldades na vida de casal... Em vez de pensardes imediatamente na separação, procurai discernir como podeis compor as coisas. Um casamento é um problema que o destino vos deu para resolver. Se encontrastes nesta vida tal mulher ou tal homem e decidistes ligar-vos a ela ou a ele, isso não foi por acaso. A razão desse encontro está naquilo que vivestes nas vossas incarnações anteriores. Agora tendes todo um trabalho interior a fazer: compreender uma certa verdade, reparar um determinado erro, desenvolver uma determinada qualidade... Se fugirdes, o problema continuará lá, por resolver, e então, seja com essa pessoa ou com outra, nesta incarnação ou numa próxima, voltareis a ter pela frente esse problema, que se tornará cada vez mais difícil de resolver. Aqueles que não raciocinam assim ignoram a lei das causas e das consequências, que é a lei do carma.
Na realidade, não é absolutamente interdito separar-se de um homem ou de uma mulher, mas não antes de ter resolvido os problemas que foram colocados. É a única maneira de conquistar a sua liberdade. É difícil, claro, mas o que parece difícil à primeira vista acaba por revelar-se o mais fácil e o que parece fácil revela-se o mais difícil. Se escolherdes o caminho mais difícil, recebereis interiormente ajuda 
para levar os vossos esforços até ao fim."

"Vós ouvis proferir acusações contra alguém... Evitai corroborá-las, sobretudo se não tiverdes a certeza de que essas acusações têm fundamento, pois nenhuma palavra fica sem consequências. Ficai a saber que, se proferis críticas falsas, de uma forma ou de outra despertais algo de negativo na pessoa a quem as dirigis, em quem vos escuta e também em vós. Sim, esta questão vai muito longe! E eu acrescentarei mesmo que, se fordes obrigados a fazer notar que uma determinada pessoa agiu mal, procurai, por medida pedagógica, terminar a vossa conversa mencionando uma das suas qualidades... ela há de ter pelo menos uma!
Mencionar os defeitos das pessoas nunca serviu para as corrigir. Portanto, quando criticais alguém sem indicar que ele também tem certas qualidades, acrescentais mal ao mal: isso não é uma atitude construtiva. Se quiserdes agir como um ser consciente, esclarecido, quando tiverdes sido obrigados a pronunciar palavras negativas, procurai terminar com algo de positivo – nem que seja mencionando uma segunda pessoa que tem as qualidades que faltam à outra. 
Sim, o essencial é terminar sempre com uma palavra positiva."

"O universo é obra dos dois grandes Princípios masculino e feminino, o Espírito cósmico e a Alma universal, que se unem para criar. Aquilo a que nós chamamos o espírito (masculino) e a alma (feminino) são emanações desses dois Princípios criadores. Por isso, tal como eles, nós somos criadores pelo nosso espírito e pela nossa alma. Mas esse poder de criar nós só podemos exercê-lo se, pela nossa consciência, formos capazes de nos elevar sempre mais alto, até às regiões onde só reina a luz.
As atividades espirituais que fazem de nós criadores verdadeiros são a oração, a meditação, a contemplação e a identificação. No desejo de nos unirmos de novo à Alma universal e de penetrarmos nela, nessa luz que é a matéria da criação, pelo nosso espírito nós fertilizamo-la. E a nossa alma, que então recebe os germes do Espírito cósmico, começa a gerar filhos divinos: 
a inspiração, a paz, a alegria, atos de nobreza e de amor."

"Desde que apareceram na terra, os humanos foram sempre sentindo novas necessidades. Evidentemente, isso é um sinal de evolução: à medida que novas necessidades se fazem sentir, as sociedades transformam-se, enriquecem-se, criam. Contudo, seria útil as pessoas deterem-se um pouco para se questionarem sobre a natureza dessas necessidades, pois a avidez, a voracidade, a ganância, que impelem tantas pessoas a procurarem as suas satisfações no plano material, poluindo e devastando o planeta, estão a conduzir a humanidade para a catástrofe. Se ao menos elas tentassem perceber um pouco que voz é essa nelas que reclama a facilidade, o conforto, os prazeres, aperceber-se-iam de que é a voz da sua natureza inferior, egoísta, caprichosa, cruel.
O destino do homem é determinado pelas suas necessidades; se ele se obstinar em procurar a sua satisfação no plano físico, é porque nunca tentou explorar as suas riquezas espirituais. No dia em que ele compreender que o Criador colocou nele, em estado subtil, o equivalente a tudo o que pode encontrar no exterior, aprenderá a alimentar-se com as riquezas do espírito. E então, não só ele já não será nocivo para a natureza nem para os humanos, como tudo o que ele depois realizar no plano físico 
estará marcado com o selo do espírito."

"Alguém vos fez mal... Ainda que seja difícil, aprendei a perdoar. Tende fé e confiança no poder das entidades luminosas do mundo invisível, que estão sempre prontas a dar-vos os meios para recuperardes a força e a coragem quando trabalhais segundo as suas leis. Se pensais que a pessoa que vos fez mal merece mesmo receber uma lição, dirigi-vos a essas entidades. Dizei: «Tal pessoa fez-me isto e aquilo e, por causa dela, estou a sofrer, tenho grandes dificuldades (e podeis até expor quais são, se quiserdes). Peço a vossa intervenção para que o mal seja reparado.» Apresentais assim uma queixa no Céu como o fazeis nos tribunais, e então o Céu verá como deve agir. Mas vós, em todo o caso, não procureis vingar-vos.
Não quero dizer com isto que se deve acabar com os juízes, os tribunais, as sanções, e deixar os malfeitores tranquilos, esperando que, um dia, a justiça divina se ocupe deles! Não, que os juízes e os tribunais façam o seu trabalho... e se esforcem por fazê-lo o melhor possível, pois é um trabalho muito difícil. Eu apenas estou a chamar a vossa atenção para alguns aspetos da vida espiritual."

"É natural lamentar os seus erros, mas, mesmo que esses erros sejam graves, é inútil e até nocivo sobrecarregar-se com eles e deixar-se corroer pelos remorsos, pensando que assim se atrairá a misericórdia divina. Com essa atitude, na realidade tudo o que se faz é recriar e alimentar no subconsciente registos das mesmas misérias, das mesmas situações feias. O remorso só deve servir para se tomar a decisão de não cair nos mesmos erros. Aqueles que estão sempre a repetir os seus erros remexem na escória do plano astral. Deste modo, fazem muito mal a si próprios e, contrariamente ao que imaginam certos fanáticos, esta atitude desagrada ao Senhor, pois o Senhor não criou os humanos para eles se sentirem miseráveis, culpados, indignos, Ele criou-os para eles viverem como Ele na beleza, na alegria e na plenitude.
Agistes mal? Depois de terdes compreendido em quê e porquê, chamai à vossa memória os momentos luminosos que vivestes, esses momentos em que vos sentistes um filho de Deus, feliz, confiante, leve. Restabeleceis assim na vossa alma condições para que as entidades que participaram nesses estados de alegria e de luz venham visitar-vos de novo, e recebereis forças para vos manterdes fiéis 
às vossas boas resoluções."

"Tudo o que acontece no mundo tem a sua razão de ser. O sábio tem esta certeza e por isso nada pode fazê-lo perder a sua luz, a sua paz, a sua confiança. Mesmo que muitos acontecimentos continuem a ser inexplicáveis para ele, isso não o leva a pôr a sabedoria divina em questão, pois sabe que, um dia, o seu significado ser-lhe-á revelado.
É certo que a existência nos põe muitas vezes perante factos, situações, que, à primeira vista, nos parecem incompreensíveis, absurdos e até escandalosos: como é que tais coisas são possíveis? Mas nada é mais terrível e perigoso do que concluir, a partir daí, que a vida humana é desprovida de sentido. Jamais um sábio dirá, como alguns supostos filósofos, que tudo é acaso, caos e absurdo. Que orgulho é afirmar que não tem sentido aquilo que ainda não se consegue compreender! 
E que empobrecimento isso representa para o pensamento!"

"Quem decide seguir um caminho espiritual não deve esperar que os seus problemas interiores sejam rapidamente resolvidos. Nada é mais difícil do que introduzir a ordem e a harmonia no seu mundo psíquico. Pode até suceder que a pessoa se sinta ainda mais vulnerável do que antes. Porquê? Porque a vida nova à qual ela procura abrir-se ocupa-se primeiro de varrer, de limpar, muitas coisas nela. E então, que rebuliço, que desestabilização! É tão salutar ela decidir dar uma melhor orientação à sua vida como é necessário ela estar consciente das perturbações que essa decisão começará por provocar nela. Senão, como não compreende o que está a suceder-lhe, volta aos seus velhos hábitos e terá de começar tudo de novo.
Para se pôr em ordem os seus problemas psíquicos é preciso realizar um trabalho preciso, com um programa, e isso demora tempo, é verdade. Mas, a partir do momento em que definis para vós uma tarefa a cumprir, pelo menos fica gravado algures um registo e as forças do subconsciente começam a circular no interior dos canais que vós abristes. Quando a chuva cai, a água segue exatamente os sulcos que foram cavados. Por isso, deveis preparar canais em vós para que a nova vida possa circular."

"O outono está sob a influência de Mikhaël, o arcanjo do Sol na séfira Tiphéreth. O seu nome significa «Quem é como Deus?» Com efeito, uma tradição refere que, quando Lúcifer, no seu orgulho, afirmou ser igual a Deus, este arcanjo, erguendo-se perante ele, gritou: «Quem é como Deus?». E, a partir daí, foi esse o seu nome.
Todos os anos, a 22 de setembro, o Sol entra na constelação da Balança. Numerosos quadros e ícones representam o arcanjo Mikhaël com uma balança na mão, pesando os atos dos humanos após a sua morte: os bons são postos num prato, os maus no outro, e ele espera para ver quais farão pender a balança. A balança é o instrumento do julgamento, e o outono é ele próprio, de certa forma, a estação do julgamento: colhe-se os frutos maduros, faz-se uma escolha e guarda-se apenas os bons.
Este trabalho de separação, de triagem, que ocorre na natureza, é também o que Hermes Trismegisto refere na Tábua de Esmeralda quando diz: «Separarás o subtil do espesso com grande perícia», isto é, com grande cuidado. Separar o subtil do espesso é separar o espiritual do material. O Iniciado, que participa com o seu espírito no trabalho de toda a natureza, sabe quando chega o momento de deixar morrer a matéria obscura que ainda permanece nele, a fim de libertar a verdadeira vida."

"Certas pessoas estão sempre a dizer: «Estou muito cansado!» E, com efeito, percebe-se o cansaço no seu rosto. Elas estão bem, mas tudo as cansa e elas não se apercebem de que, não parando de se queixar, acabarão por ficar completamente extenuadas. Ora, é fácil observar que aqueles que assim se queixam de que estão cansados raramente são quem trabalha mais. Não se pode negar que eles estão cansados, não se trata de um cansaço imaginário, não, ele é bem real; só que não vem de um excesso de trabalho, mas do facto de eles ruminarem em pensamentos e sentimentos que os esgotam. E esse cansaço psíquico é contagioso: quando se está com essas pessoas, alguns minutos depois fica-se com a sensação de que se tem um peso nos ombros ou de que se ficou sem energia.
Um dos métodos mais eficazes para alguém se libertar do cansaço psíquico é uma boa fadiga física: esta fadiga descansa e cura. Os humanos possuem recursos insuspeitos que devem aprender a explorar por um esforço de vontade. Muitos estão cansados muito simplesmente porque vivem uma vida estagnada!"

"Mesmo que, um dia, se conseguisse suprimir todos os exércitos e todos os canhões, no dia seguinte os humanos inventariam outros meios para se guerrearem. Não é suprimindo alguém ou alguma coisa no exterior que se pode restabelecer a paz. A paz é, em primeiro lugar, um estado interior, e é nele mesmo que o ser humano deve começar por suprimir as causas da guerra. Enquanto ele for habitado pelo descontentamento, pela revolta, pela inveja, pelo desejo de possuir sempre mais, o que quer que ele faça não só alimentará no seu íntimo os germes da desordem, como semeará esses germes 
por toda a parte à sua volta.
Quem come e bebe o que quer que seja faz entrar no seu organismo certos elementos nocivos que o tornarão doente. E, então, que paz pode ele ter depois de estragar o seu organismo? No plano psíquico existe a mesma lei: se ele engolir todo o tipo de pensamentos e de sentimentos, ficará doente. A paz também é, pois, consequência de um saber relativo à natureza dos alimentos que o homem “ingere” no plano psíquico. Ela só pode instalar-se naqueles que se esforçam por se alimentar de pensamentos justos e sentimentos generosos. Só esses seres podem trazer a paz ao seu redor: de todas as células do seu corpo, de todas as partículas do seu ser físico e psíquico, emana uma harmonia que impregna 
os mínimos atos da sua vida quotidiana."

"Conta-se que, quando estava no poder o sultão otomano Mehemet III, a quem chamaram o Conquistador, um guerreiro tornou-se célebre ao conseguir vinte e duas vitórias sobre os exércitos inimigos. Era a época em que se combatia com sabres. Então, um dia, o sultão pediu que lhe trouxessem aquele sabre sempre vencedor, pensando que ele tinha certamente algumas particularidades excecionais. Trouxeram-lhe o sabre e ele pegou nele, mirou, remirou... era um sabre normalíssimo. O sultão, desiludido, mandou que levassem o sabre dizendo que ele nada tinha a fazer com uma arma tão vulgar. Quando o herói que vencera tantos combates soube da reação do sultão, exclamou: «Mas ele só viu o sabre, não viu o meu braço. Foi o meu braço que obteve as vitórias.»
Um Mestre espiritual dá-vos um sabre, ou seja, métodos, mas eles só serão eficazes se os aplicardes. Mesmo um pequeno canivete pode ser extremamente eficaz se uma pessoa se treinar todos os dias no seu manejo, e um só fósforo pode incendiar uma cidade inteira. Com um método muito simples, vós podereis fazer maravilhas: está tudo no vosso “braço”, isto é, na vossa vontade."

"Tal como as pedras, as plantas e os animais, o ser humano faz parte do universo. Mas, enquanto ser pensante, ele tem aí um papel particular a desempenhar: deve participar na construção do edifício que é a vida coletiva. Àqueles que trabalham unicamente para si mesmos nada de bom pode advir. Alguém dirá: «Como? É trabalhando para mim que eu ganho alguma coisa!» Não, pois esse “eu” a que ele consagra todos os seus esforços, esse eu egoísta, separado dos outros, é um sorvedouro, e se se concentrar só nos seus interesses ele lança nesse sorvedouro todas as suas riquezas, sem se aperceber. Pensa que ganha, mas, na realidade, perde.
Raros são os humanos que têm consciência de tudo o que poderiam adquirir trabalhando para a coletividade; e por “coletividade” não se deve entender somente a coletividade humana, mas todas as criaturas do universo, até ao próprio Deus. Para ser compreendido mesmo pelos materialistas mais empedernidos, eu direi que essa coletividade cósmica, essa imensidão na qual nós devemos trabalhar, é comparável a um banco no qual se depositam capitais: 
tudo o que fazemos por ela voltará um dia a nós amplificado."

"Quereis saber para onde ireis quando deixardes a terra? É simples: sereis naturalmente atraídos pelas regiões para as quais, ao longo da vossa existência, dirigistes os vossos desejos. Se usastes as vossas energias para pedir a inteligência, o amor, a beleza, e para os realizar nesta vida, podeis estar absolutamente certos de que nenhuma força poderá impedir-vos de ir encontrá-los nessas regiões 
a que o vosso coração aspira.
Aqueles que se recusam a aceitar que existe vida depois da morte e permitem a si próprios toda a espécie de transgressões para satisfazer os seus desejos não têm a menor ideia dos sofrimentos que os esperam no além. Ao passo que aqueles que procuram sintonizar-se diariamente com as leis divinas entram em relação com os espíritos da luz e esses espíritos vêm instalar-se neles: como eles os atraíram, esses espíritos criam uma associação com eles. Mais tarde, quando eles deixarem a terra, quando o seu corpo físico se desagregar e todas as partículas que o compõem forem integrar-se de novo nos quatro elementos, eles encontrar-se-ão no outro mundo em companhia dos espíritos que atraíram. Assim, sem o saber, sem conhecer ainda todos os amigos que dela farão parte, cada um de vós está a trabalhar para formar a sociedade em que viverá no além. É esta a explicação para aquilo a que as religiões chamaram 
o Inferno e o Paraíso."