domingo, 7 de maio de 2017

MESTRE OMRAAM MIKHAEL AIVANHOV


"Cada um dos nossos estados psíquicos produz efeitos no mundo invisível e, por isso, afeta outras criaturas. Embora a maioria dos humanos não tenha consciência deste facto, isso nada muda: mais cedo ou mais tarde, eles serão obrigados a constatar os estragos provocados por todas as suas desordens interiores. Quando chegarem ao outro mundo, as entidades celestes dir-lhes-ão: «Olha! Por tua causa, foi cometido este crime, aconteceu aquele acidente.» Eles bem poderão protestar, dizendo que nunca fizeram aquele mal, que nunca roubaram, nem destruíram, nem mataram, mas responder-lhes-ão: «Talvez não, mas os teus pensamentos e os teus sentimentos influenciaram outras pessoas que, por tua causa, foram impelidas a agir mal.»
Perante a Justiça Divina, nós não somos responsáveis somente pelos nossos atos. Cada um é também responsável pelos seus pensamentos, pelos seus sentimentos, pelos seus desejos, pois eles agem no mundo invisível como forças que impelem outros seres para o bem ou para o mal."

"Vós olhais para um balão, preso por um fio: ele quer elevar-se para o céu, mas continua atado ao solo... Tal como este balão, existe em cada ser humano algo que aspira a escapar-se, a elevar-se livremente nos ares, mas que está retido por laços. Pois bem, ele deve esforçar-se por afrouxar ou desatar tais laços pouco a pouco, para corresponder a esse desejo profundo, eterno, inscrito na sua alma: o de se lançar para a imensidão de luz e de paz onde teve a sua origem.
É esta recordação, muitas vezes vaga, confusa, de uma pátria longínqua, de uma pátria perdida, que alimenta a fé na maioria dos humanos. Eles trazem inconscientemente neles os traços indeléveis de um passado muito longínquo em que viviam no seio do Eterno e sentem a nostalgia desse passado."

"Para a maioria dos humanos, amar significa pedir, exigir, reclamar. Sim, tradução literal! É assim que eles se comportam em relação ao Senhor, e fazem o mesmo com as pessoas que dizem amar: perseguem-nas com as suas exigências e, seja o que for que elas lhes deem, ficam sempre insatisfeitos.
Quereis mais um critério para saber se amais realmente um ser? Se não tendes nada a exigir dele, se o vosso único desejo é agradecer-lhe e agradecer ao Céu simplesmente porque esse ser existe – sim, só porque ele existe –, podeis estar certos de que o amais. Senão, chamai aos vossos sentimentos aquilo que quiserdes, mas, seguramente, não será amor."

"Aspirais à liberdade? Então, seja o que for que vos aconteça, não vos deixeis perturbar nem desanimar, fazei com que o vosso espírito retome, pouco a pouco, o domínio da situação, pois só o espírito é verdadeiramente livre, ele plana acima dos acontecimentos.
Quando devolveis ao espírito o seu lugar em vós, algo vos diz que nenhum obstáculo, nenhuma provação, pode fazer-vos perder o equilíbrio, a paz, o amor. E, como as experiências luminosas que fizestes antes vos ensinaram os valores com os quais podeis contar, agarrai-vos a essas experiências, não duvideis do que vivestes de belo e de grandioso, levai-o como um viático para o caminho difícil que ireis percorrer. Quando a tormenta tiver passado, aperceber-vos-eis de que aquilo que poderia ter-vos feito desanimar, pelo contrário, reforçou-vos."

"Como as consequências das suas maneiras de pensar e de agir não são imediatas, os humanos raramente conseguem discernir o que causou as suas infelicidades. Quando eles se deixam levar pelas desordens interiores ou cometem atos repreensíveis, é raro serem imediatamente atingidos por catástrofes; sentem-se como antes e, por vezes, até melhor do que antes! Por que é que a Inteligência Cósmica fez assim as coisas? Para dar aos seres humanos o tempo e as possibilidades de eles tomarem consciência dos seus erros e de os repararem. Em vez de deixar a lei das causas e das consequências agir imediatamente, com a sua sabedoria e o seu amor ela faz com que eles tenham tempo para refletir e retificar o seu comportamento.
Um homem transgride algumas regras da vida social: por exemplo, não declara corretamente os seus rendimentos. Só alguns meses ou alguns anos depois é que o fisco lhe pedirá contas, e, enquanto espera pela decisão sobre o caso, ele ainda tem tempo para saldar a sua dívida. Passa-se o mesmo na vida interior, e esta possibilidade que foi dada ao homem de rever as situações e de as corrigir é um aspeto da sabedoria e do amor divinos."
 
"Se estamos na Terra, é porque há uma razão para isso, senão os Senhores dos Destinos poderiam ter-nos enviado para outro sítio... Não faltam regiões no Universo que são, certamente, lugares agradáveis para umas férias.
Na realidade, o melhor lugar para se ir é o Sol. Perguntareis vós: «O Sol? Mas ficaremos queimados!» Se lá fordes com o vosso corpo físico, claro que ficareis queimados. Mas quem disse que devíeis lá ir com o corpo físico? O corpo físico está adaptado à vida na Terra. Para irdes aos outros planetas ou ao Sol, tendes outros corpos, outros veículos. Existem diferentes formas de vida no Universo, que correspondem a diferentes aspetos da matéria. E, embora não possamos ir ao Sol com o nosso corpo físico, podemos lá ir com a nossa alma e o nosso espírito."

"A hóstia que o cristão recebe na missa no momento da comunhão tem por função recordar o pão que Jesus, na última refeição que fez com os seus discípulos, lhes deu, dizendo: «Tomai e comei, isto é o meu corpo.» Uma vez que tem mais ou menos a mesma composição que o pão, a hóstia, materialmente, não proporciona nada mais do que um pedaço de pão, mas foi-lhe atribuída uma função simbólica: ela representa o corpo do Cristo. O sacerdote, pela sua bênção, transmite a esta hóstia energias espirituais, e o fiel que a recebe, pelo seu lado, deve impregnar-se do seu significado sagrado.
Então, não é o fiel que, em última instância, tem o papel mais importante? É ele que, pela sua atitude interior, pode anular o que a bênção do sacerdote transmitiu ou, pelo contrário, reforçá-lo, pelo respeito e pela consideração que tem por essa hóstia."

"Todos os seres e todos os objetos que nos rodeiam podem ajudar-nos, mas nunca devemos contar absolutamente com eles. Uma vez que são exteriores a nós, podem não estar sempre à nossa disposição; num dado momento estão lá, mas no momento seguinte estão noutro sítio ou, então, alguém no-los tira.
O verdadeiro discípulo da Ciência Iniciática aprendeu a procurar em si mesmo aquilo de que necessita para viver na plenitude, pois foi na sua alma e no seu espírito que Deus depositou todas as riquezas. E, uma vez que elas estão nele, permanecem como sua propriedade. Evidentemente, a exploração do mundo interior é um empreendimento de grande fôlego que exige esforços quotidianos, mas nenhuma outra coisa pode preencher verdadeiramente o discípulo. O alimento que ele toma nas regiões sublimes da alma e do espírito sacia-o durante dias e dias, e nada pode tirar-lhe essa sensação de espaço e de eternidade."

"Uma religião é uma forma que o espírito toma para se manifestar. Ora, nenhuma forma pode permanecer inalterada. O Cristianismo, que nasceu no Médio Oriente, recebeu desde o início certos elementos das culturas grega e latina; esses elementos juntaram-se aos herdados da religião judaica, que, por sua vez, tinha sido influenciada pelas religiões dos países vizinhos: Egito, Mesopotâmia, etc. Uma religião nunca nasce do nada, recebe os elementos das religiões anteriores e ela própria se transforma, à medida que se difunde longe do seu lugar de origem. Assim, os povos da África, da América ou da Ásia que foram convertidos ao Cristianismo mesclaram nele elementos da sua própria cultura.
Quer se queira, quer não, as religiões transformam-se. Mesmo que os textos sagrados sejam mantidos, existe uma distância cada vez maior entre o que as pessoas leem e a maneira como elas compreendem e sentem esses textos. A evolução é a lei da vida, por isso não é sensato querer eternizar, à viva força, as formas de uma religião."

"Nada no mundo tem um valor superior ou mesmo igual ao da vida, e o nosso primeiro dever é o de preservar a nossa vida, de a proteger, de a tornar mais forte, mais intensa. A História mostra-nos que houve homens e mulheres que deram a vida para defender certas ideias, para salvar vítimas, pessoas em perigo. Santos, profetas e Iniciados também deram a sua vida por uma ideia, para a glória de Deus, e não só não perderam nada, como depois receberam uma vida nova, ainda mais rica, ainda mais bela, porque se tinham sacrificado pelo bem. Mas, tirando estes casos, que são excecionais, cada um deve preservar a sua vida, purificá-la, intensificá-la, iluminá-la, pois ela é a fonte, o ponto de partida para todos os outros desenvolvimentos, nos planos físico, afetivo e mental.
A verdadeira ressurreição começa com um trabalho sobre a vida. No começo, existe a vida, e é depois que vêm a sabedoria, o amor, a beleza, etc., que são outros tantos ramos da árvore primordial, a árvore da vida."

"A evolução espiritual de um ser humano é acompanhada por um aumento da sua sensibilidade: quanto mais a sensibilidade aumenta, mais ele vive uma vida rica, intensa. Aquele cuja sensibilidade diminui regride à condição dos animais, das plantas, das pedras. Vós direis: «Mas, quanto mais sensíveis nos tornarmos, mais expostos ficaremos ao sofrimento.» É verdade, mas, mesmo correndo o risco de ficar mais vulnerável, é preferível aumentar a sua sensibilidade, pois desse modo aumenta-se a intensidade da vida.
Aqueles que possuem uma grande sensibilidade devem ter o cuidado de a preservar sendo comedidos, pois são os excessos que enfraquecem a sensibilidade. Se lerdes demasiado, por exemplo, o vosso cérebro ficará saturado e perdereis o gosto por pensar. Para compreender o essencial, não é preciso acumular demasiadas ideias na cabeça. E na amizade, no amor, também há que estar vigilante e manter certas distâncias. Aquele que se lança perdidamente nas efervescências do amor acaba por ficar indiferente, já não sente nada. Para se desenvolver a sensibilidade, é preciso saber diminuir a quantidade e aumentar a qualidade."

"Todos nós temos uma alma e essa alma tem necessidades. Se há tantas pessoas que não as sentem, é porque as abafaram, deixando-se arrastar para uma vida sem ideal. Mas essas necessidades existem e, por vezes, manifestam-se nos seres sem eles próprios conseguirem compreender a sua linguagem. Todas essas experiências perigosas – a droga, por exemplo – que, atualmente, tentam os jovens, mas também os adultos, são expressões de uma lacuna, de um chamamento da alma, que tem fome de infinito e reclama o seu alimento.
Com efeito, o que resta para a alma numa sociedade onde se destruiu totalmente a crença num mundo divino e onde se apresenta como ideal o combate político e o sucesso económico ou social? Uma vez que a privam dos alimentos espirituais de que ela necessita para se lançar no espaço, a alma vai procurar esses elementos à matéria, em substâncias como o tabaco, o álcool, a droga, em tudo aquilo a que se chama “paraísos artificiais”. Só que essas substâncias destroem o ser humano, psiquicamente e fisicamente."

"O verdadeiro espiritualista é aquele que decide abandonar todas as suas ocupações fúteis, todos os prazeres passageiros que nada lhe trazem. Fazendo isso, liberta nele as energias que estavam paralisadas, subjugadas por hábitos de vida vulgares, e começa a dar frutos no mundo da alma e do espírito.
Observai uma árvore: quando é invadida por insetos, por lagartas, ela não pode dar frutos e é preciso libertá-la desses parasitas. O ser humano que se deixa ir atrás da preguiça, da facilidade, dos prazeres frívolos, também atrai parasitas. E que parasitas são esses? Entidades tenebrosas do mundo astral. Elas invadem o seu corpo, a sua vontade, o seu coração, o seu intelecto, e aspiram os sucos que deveriam alimentar o seu Eu superior. Sim, é verdade: se os humanos não estiverem vigilantes, começam a abrigar em si outras criaturas, que esgotam as suas forças. Para se desembaraçarem desses parasitas, eles devem pôr-se ao serviço do seu Eu superior, para o alimentarem com frutos suculentos."

"Nós não podemos viver sem fazer trocas com o mundo que nos rodeia. A começar pela respiração e pela nutrição, toda a nossa vida é feita de trocas; os órgãos dos sentidos (o tato, o paladar, o olfato, o ouvido e a vista) foram-nos dados pela Natureza para podermos fazer trocas com a Criação e com as criaturas. E a nossa vida afetiva e intelectual consiste igualmente em encontros, em trocas: por palavras, por sentimentos, por pensamentos, estamos sempre a tecer uma rede de relações que é a base da vida familiar e social.
Se os humanos ainda não retiram muitas bênçãos dessas trocas é porque, muitas vezes, não ultrapassam o nível do instinto, do inconsciente, como acontece nas plantas e nos animais. As plantas e os animais também respiram e se alimentam; os animais também têm órgãos dos sentidos e, por vezes, até mais bem desenvolvidos do que no homem; e têm igualmente uma vida familiar e social. Cabe aos humanos tornarem mais profundas, mais ricas, todas as trocas que fazem com a Natureza e os seres com quem se relacionam. E o nosso Ensinamento apresenta inúmeros exercícios para isso! "

"Educar uma criança não consiste unicamente em dar-lhe lições de moral, em dar-lhe ordens ou em aplicar-lhe um castigo quando ela desobedece. Para serem bons educadores, os adultos devem pensar em todas as qualidades e virtudes que estão ocultas na alma e no espírito da criança, concentrar-se na centelha divina que habita nela e dar-lhe todas as condições para se manifestar; assim, essa criança desenvolverá, mais tarde, as sementes magníficas que foram favorecidas nela.
E, como uma criança nem sempre compreende aquilo que lhe dizem, nem a razão por que lho dizem, também é preciso saber dirigir-se ao seu subconsciente. Por exemplo, quando ela já estiver a dormir, os pais, ou as pessoas que cuidam dela, podem colocar-se junto da sua cama e, fazendo-lhe umas carícias, sem a despertar, falar-lhe de tudo o que de bom desejam para ela. Deste modo, introduzem nas profundezas do seu ser elementos preciosos que, quando se revelarem, anos mais tarde, a protegerão de muitos erros e de muitos perigos."

"Vós estais expostos todos os dias às manifestações da vossa natureza inferior. Ela faz parte de vós e apresenta-vos os seus argumentos. Mas desconfiai dela e tentai não vos deixar convencer, nunca lhe deis razão. Concedei-lhe, se quiserdes, o benefício da “razão irracional”, dizendo: «Bom, ela é o que é por motivos que, sem dúvida, foram válidos no passado, numa certa fase da evolução, quando o homem, tal como o animal, devia obedecer aos seus instintos para sobreviver. Mas agora, numa fase mais avançada, a Inteligência Cósmica tem outros projetos para mim.»
E desconfiai também daqueles que se deixam conduzir pela sua natureza inferior. Podeis desculpá-los, compreendendo a causa do seu modo de agir, mas não vos deixeis influenciar. Compreendê-los, desculpá-los, perdoá-los, é diferente e, a não ser em casos excecionais, até é desejável. Mas vós, segui a vossa natureza superior; estareis sempre no bom caminho e podereis arrastar outros convosco."

"Quando os humanos se confrontam e se destroem uns aos outros, trabalham contra o Criador. Embora Deus os tenha criado diferentes, essas diferenças nunca devem servir de pretexto para eles se combaterem. Aos olhos de Deus, nada justifica o ódio a uma raça ou a um povo, ou o seu desejo de subjugar uma classe social. Todos os seres vivos saíram de Deus e Deus sofre ao vê-los estarem em confrontos. Os humanos adotaram a filosofia do separatismo, em nome de interesses que consideram superiores, mas que, na maior parte dos casos, são inspirados pelo seu egoísmo, pelas suas vistas curtas. A defesa desses interesses vai contra os interesses da Criação no seu todo e isso arrastará a humanidade para a ruína. Os verdadeiros interesses dos humanos confundem-se com os do Criador e só a conjugação dos interesses dos homens com os interesses do Criador traz bênçãos para todos."

"Mesmo que tenham muita imaginação, os humanos, na sua maioria, não sabem o que é, realmente, essa faculdade. A verdadeira imaginação, tal como os Iniciados a concebem e com a qual trabalham, é uma espécie de tela situada no limite entre o mundo visível e o mundo invisível. Nessa tela, vêm refletir-se objetos ou entidades que escapam, habitualmente, à consciência. Em certos seres muito desenvolvidos e que sabem orientar a sua imaginação, esta recebe e regista muitas coisas que eles depois conseguem exprimir, realizar; muito mais tarde, percebe-se que aquilo que eles assim “imaginaram” não era uma pura invenção da sua parte, mas que eles tinham captado realidades ainda não manifestadas no plano físico.
Todos os humanos têm esta faculdade de captar realidades do mundo invisível, mas só aqueles que sabem como trabalhar sobre os seus pensamentos e os seus sentimentos conseguem purificar a tal ponto o seu mental, que a sua imaginação se torna límpida... uma pura transparência... e eles começam a “ver”. Nesse nível, imaginação e visão verdadeira são uma só coisa."

"Nunca deveis dar o vosso coração, ele pertence-vos e ninguém tem o direito de dispor dele por vós. Se derdes o vosso coração a alguém, ficareis sem ele, o outro terá dois, e o que fará ele com dois corações? Deixará cair o vosso. Na Bulgária, dizemos que não se pode transportar duas melancias debaixo do mesmo braço. Ou seja, mais cedo ou mais tarde, aquele a quem destes o vosso coração pode deixá-lo cair. Então, vós gritareis: «O meu coração está partido!» E, se fordes queixar-vos ao Céu, ele reponder-vos-á: «A culpa é tua! Por que é que lho deste? Devias tê-lo guardado para ti.» «Sim, mas eu amo-o, eu amo-o!» «Está bem, tu ama-lo, mas podias dar-lhe a tua ternura, o teu amor, as tuas canções... e guardar o teu coração para ti.»
E não penseis que estas precauções são válidas só para o coração. A Natureza deu-nos também um corpo, uma inteligência e uma vontade. Aquele que é sábio guarda-os para si, mas distribui os seus frutos, isto é, os seus pensamentos, os seus sentimentos, a sua atividade, o seu trabalho."

"Está escrito no Zend-Avesta que, quando Zaratustra perguntou ao deus Ahura Mazda como se alimentava o primeiro homem, este respondeu-lhe: «Ele comia fogo e bebia luz.» Então, por que é que nós não havemos de aprender também a comer fogo e a beber luz, para voltarmos à perfeição do primeiro homem? Vós direis que isso não é possível. Sim, é possível.
Quando fordes assistir ao nascer do Sol, esperai pelo primeiro raio permanecendo vigilantes, atentos... Assim que esse primeiro raio aparece, pensai que o absorveis. Em vez de apenas olhardes para o Sol, vós bebei-lo, comei-lo, e imaginais que essa luz, que é viva, se propaga em todas as células dos vossos órgãos, que ela as purifica, as reforça, as vivifica. Não só este exercício vos ajuda a concentrardes-vos, como sentis que todo o vosso ser estremece e se ilumina, porque conseguistes, verdadeiramente, absorver a luz..."

"A visão, a audição, o olfato, o gosto e o tato dão-nos um bom conhecimento da realidade material. Mas os cinco sentidos têm prolongamentos no mundo psíquico e, para aquele que aprendeu a exercitá-los, são úteis também na sua relação com os outros. Os olhos permitem-lhe interpretar certos detalhes impercetíveis do comportamento. Os ouvidos, para além das palavras pronunciadas, analisam as entoações de uma voz, mesmo ao telefone. O olfato perceciona os odores das emanações físicas e o gosto revela os seus sabores. Quanto ao tato, basta apertar a mão de uma pessoa para se ficar imediatamente informado sobre o seu caráter, pois num aperto de mão é todo o ser que se exprime.
Há tantas pessoas que se arrependem de não terem sido perspicazes relativamente àqueles com quem se relacionam! Sobrestimaram uns, subestimaram outros… Porquê? Porque se apressam sempre muito a fazer juízos. Pronunciam-se tendo em conta a primeira impressão e, muitas vezes, aquilo que lhes é conveniente. É preciso ser menos apressado, mais prudente, mais refletido, sabendo que, embora seja difícil conhecer os humanos, os cinco sentidos bem exercitados fornecem-nos logo algumas indicações sobre eles."

"Aquele que não se revolta contra as dificuldades e as provações, mas, pelo contrário, as aceita esforçando-se por compreendê-las e por tirar lições delas, liberta os poderes da sua alma e do seu espírito. Algum tempo depois, apercebe-se de que essas provações produziram nele algo de magnífico. Há tantas pessoas que dizem que se sentem atraídas pela alquimia! Pois bem, é nisto que consiste o verdadeiro trabalho alquímico. No dia em tiverdes esta compreensão, conseguireis tirar da matéria bruta, negra e informe do sofrimento, uma matéria preciosa, cintilante, irisada, resplandecendo em mil cores.
Como o sofrimento é inevitável, mais vale aprenderdes a trabalhar com ele; senão, assemelhar-vos-eis a estaleiros deixados ao abandono: quando quiserdes exprimir-vos, não sabereis que materiais usar e não conhecereis nada da vida da alma e do espírito, da sua imensidão, das suas profundezas, dos seus cumes. Só aqueles que sabem sofrer podem tornar-se criadores."

"Na maior parte das pessoas, à mínima contrariedade desencadeia-se todo um mecanismo interior: qualquer ocasião lhes serve para ruminarem pensamentos e sentimentos de irritação, de cólera, de hostilidade, de revolta. Tudo o que os outros fazem é interpretado em função dos desejos delas, das suas próprias expectativas, e ai dos outros se não corresponderem a essas expectativas! Não só se zangam elas com eles, como lhes atribuem todo o tipo de intenções malévolas. Nem pensam que eles podem estar ocupados, retidos algures, ou com preocupações, ou doentes, ou que talvez haja uma justificação para o seu comportamento. Por que é que hão de interrogar-se nestes termos? Preferem interpretar o comportamento dos outros como afrontas pessoais.
Os humanos sentir-se-ão muito melhor quando se aperceberem de que não são os outros que lhes fazem o maior mal, mas sim eles próprios, porque não deixam de dar ouvidos à sua natureza inferior. É desta natureza inferior que eles devem desconfiar acima de tudo, pois ela é altamente neurótica e, à mínima ocasião, alimenta-se de ideias falsas e de crenças sem fundamento."

"Vós sabeis o que acontece numa sala de aula antes da chegada do professor: as crianças correm por toda a parte, gritam, discutem... É normal: como diz o provérbio: «Quando o gato não está, os ratos dançam.» Mas, quando o professor chega, todos vão para o seu lugar em poucos segundos, porque a cabeça, o chefe, entrou. Pois bem, em nós existem as mesmas leis. Em nós, é Deus que é a cabeça, o chefe, o centro, mas desde que lhe abramos uma porta para Ele entrar; senão, continuará a reinar a desordem.
Quando ouço alguém dizer: «Eu não preciso de Deus, desenvencilho-me sem Ele!», posso responder a essa pessoa que, efetivamente, ela desenvencilhar-se-á, mas ficará em desordem, na escuridão, e que perderá imenso! A cabeça, o Senhor, introduz a ordem nas células do nosso organismo; quando Ele está presente, elas trabalham num entendimento perfeito, a vida circula. É essencial ter o Senhor como centro de si mesmo, pois é esse ponto, no centro, que organiza e harmoniza todo o nosso interior."